2022

Ateliê Casa
Exposição – Fábulas de Arquivos entre Feitiços e Metamorfoses.

Feitiços e Metamorfoses

Arquivos de imagens são coisas magnéticas. Diante deles, sentimo-nos enfeitiçados e rendidos por uma enigmática paixão. Talvez, hipnotizados por aquilo que justamente nos escapa. Nada sabemos de antemão, mas as imagens, todas elas, secretamente sussurram devires. As imagens, escreveu Etienne Samain¹, “(…) por natureza, são poços de memórias e focos de emoções, de sensações, isto é, lugares carregados precisamente de humanidade”.

É preciso se lembrar do fato que, ao nascer, a imagem não nasce arquivo. Ela torna-se arquivo, e os arquivos são sempre lugares temporários. Mas afinal, qual é o destino das imagens? Fazer uso de um arquivo – uma imagem órfã, sem dono – e trabalhar com a liberdade imaterial de uma imagem não quer dizer meramente apropriar-se dele sem compromissos éticos. Adotar arquivos é fabular outras vidas para as imagens. É retirá-las de um mundo de silêncios para vinculá-las a uma pluralidade de sentidos, evocando memórias e imaginações.

Esta exposição é a tessitura de uma grande fábula apresentada por 28 artistas integrantes da II Edição da Residência ACHO. O programa – uma iniciativa do ACHO – Arquivo Coleção de Histórias Ordinárias, em conjunto com uma rede de pesquisadores e artistas latino-americanos e europeus –, acompanhou o desenvolvimento das produções autorais ao longo de um ano.

Durante a Residência ACHO, os artistas mergulharam em diferentes arquivos órfãos, como a coleção de mais de 15 mil fotografias vernaculares anônimas, que foram recuperadas do descarte de lixo urbano e hoje formam o acervo ACHO, situado na cidade de Campinas-SP. Em Fábulas de Arquivos, mais de 150 obras fotográficas, videográficas, sonoras, escultóricas são apresentadas envoltas de poéticas metamorfoseantes e enfeitiçadas como gesto político de devolver as imagens ao mundo.

O programa da Residência foi uma inciativa do ACHO arquivo em conjunto com uma rede de pesquisadores e artista latino-americanos. A aulas foram dadas por Fabiana Bruno (Brasil) @brunofaby e Óscar Martínez (Colombia)@oscarguarinmartnez. Sempre remotas.

Os artistas produziram seus trabalhos a partir da experiência de mais de 1 ano de aulas, pesquisas no acervo do ACHO @acho_imagens e
aulas com convidados artistas/acadêmicos de várias partes do mundo.

¹SAMAIN, Etienne. “As imagens não são bolas de sinuca”. In: Como pensam as imagens. Campinas: Editora Unicamp, 2012, p. 22.

2022

Ateliê Casa
Exposição – Fábulas de Arquivos entre Feitiços e Metamorfoses.

Feitiços e Metamorfoses

Arquivos de imagens são coisas magnéticas. Diante deles, sentimo-nos enfeitiçados e rendidos por uma enigmática paixão. Talvez, hipnotizados por aquilo que justamente nos escapa. Nada sabemos de antemão, mas as imagens, todas elas, secretamente sussurram devires. As imagens, escreveu Etienne Samain¹, “(…) por natureza, são poços de memórias e focos de emoções, de sensações, isto é, lugares carregados precisamente de humanidade”.

É preciso se lembrar do fato que, ao nascer, a imagem não nasce arquivo. Ela torna-se arquivo, e os arquivos são sempre lugares temporários. Mas afinal, qual é o destino das imagens? Fazer uso de um arquivo – uma imagem órfã, sem dono – e trabalhar com a liberdade imaterial de uma imagem não quer dizer meramente apropriar-se dele sem compromissos éticos. Adotar arquivos é fabular outras vidas para as imagens. É retirá-las de um mundo de silêncios para vinculá-las a uma pluralidade de sentidos, evocando memórias e imaginações.

Esta exposição é a tessitura de uma grande fábula apresentada por 28 artistas integrantes da II Edição da Residência ACHO. O programa – uma iniciativa do ACHO – Arquivo Coleção de Histórias Ordinárias, em conjunto com uma rede de pesquisadores e artistas latino-americanos e europeus –, acompanhou o desenvolvimento das produções autorais ao longo de um ano.

Durante a Residência ACHO, os artistas mergulharam em diferentes arquivos órfãos, como a coleção de mais de 15 mil fotografias vernaculares anônimas, que foram recuperadas do descarte de lixo urbano e hoje formam o acervo ACHO, situado na cidade de Campinas-SP. Em Fábulas de Arquivos, mais de 150 obras fotográficas, videográficas, sonoras, escultóricas são apresentadas envoltas de poéticas metamorfoseantes e enfeitiçadas como gesto político de devolver as imagens ao mundo.

O programa da Residência foi uma inciativa do ACHO arquivo em conjunto com uma rede de pesquisadores e artista latino-americanos. A aulas foram dadas por Fabiana Bruno (Brasil) @brunofaby e Óscar Martínez (Colombia)@oscarguarinmartnez. Sempre remotas.

Os artistas produziram seus trabalhos a partir da experiência de mais de 1 ano de aulas, pesquisas no acervo do ACHO @acho_imagens e
aulas com convidados artistas/acadêmicos de várias partes do mundo.

¹SAMAIN, Etienne. “As imagens não são bolas de sinuca”. In: Como pensam as imagens. Campinas: Editora Unicamp, 2012, p. 22.

Livro Digital resultado da I Residência Internacional Acho 2020/2021
Clique aqui para acessar a página

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2019

MACC

Para se conectar à experiência do universo dos arquivos órfãos como um organismo vivo, essas salas expositivas foram desenhadas com inspiração em um espaço circular, mitopoético e imaginário, flutuante nos tempos das muitas memórias que nos precedem e nos unem.

A expografia criada alude à dinâmica da vida das imagens, instigando suas correlações com o mundo dos arquivos anônimos: aparição, desaparição e reaparição. Esse movimento triádico perfaz a compreensão harmônica dos estados latentes das imagens que podem co-habitar uma mesma sala expositiva: os ciclos do nascer, desaparecer e superviver.

2019

MACC

Para se conectar à experiência do universo dos arquivos órfãos como um organismo vivo, essas salas expositivas foram desenhadas com inspiração em um espaço circular, mitopoético e imaginário, flutuante nos tempos das muitas memórias que nos precedem e nos unem.

A expografia criada alude à dinâmica da vida das imagens, instigando suas correlações com o mundo dos arquivos anônimos: aparição, desaparição e reaparição. Esse movimento triádico perfaz a compreensão harmônica dos estados latentes das imagens que podem co-habitar uma mesma sala expositiva: os ciclos do nascer, desaparecer e superviver.

TOTE

Outono dos Arquivos Órfãos

Fotografias avulsas, livres e em deslocamentos errantes, apátridas e sem destino. Imagens enlutadas pela perda de seus álbuns, “seus berços” de arquivos familiares, tornam-se silentes sobre o seu passado na medida em que se afastam de seus começos e recusam-se a dizer o que já viveram um dia. Como restituir essas fotografias – que poderiam bem serem os restos, as excluídas, as enjeitadas – a um lugar no mundo? Como tocar na supervivência destas fotografias que agora respiram adormecidas no silêncio pulsante de um arquivo órfão, embebidas em seus esquecimentos, sobras e intervalos poéticos?

Da propositura do desafio de encontrar possibilidades artísticas e poéticas para lidar com tais indagações, nasce o conjunto de trabalhos desta exposição Outono dos Arquivos Órfãos. Projetos visuais de rara sensibilidade que se preocuparam em “oferecer um destino” às fotografias vernaculares anônimas, desarticuladas de seus álbuns e de seus arquivos e encontradas por catadores de lixo reciclável abandonadas nas ruas de Campinas.

A realização deste trabalho coletivo, no contexto do Grupo de Estudos do Ateliê CASA, é também o projeto inaugural nascido da documentação do ACHO – Arquivo Coleção de Histórias Ordinárias, e reflete o movimento a que se lançaram sete artistas visuais – Alice Grou, Estefania Gavina, Elaine Pessoa, Olívia Niemeyer, Helena Giestas, Norma Vieira e Vane Barini, – ao longo do ano de 2018, sob minha orientação e curadoria, mas indispensavelmente sob a magnitude de um arquivo de fotografias anônimas e seus enigmas.

Uma combinação de desejos e de revelações expostas aos riscos imaginativos, aos quais estas artistas visuais se lançaram ao adotar fotografias anônimas e conviver com elas. Fotografias despretensiosas, quase banais, daqueles dias ordinários em que a vida, e também a morte, parecem ter nos esquecido. Fotografias de “pequenezas”, como o simples golpe do olhar de uma criança impresso em um retrato amarelado, e até um pouco apagado, desvendado em meio a outras imagens desgarradas, entre as últimas fotografias de uma caixa velha. Ou de um jardim, que ainda guarda um pequeno portão por onde entraram e saíram pessoas de um tempo outro, por onde passaram acontecimentos registrados naqueles que posam para a fotografia, emoldurando um gesto de amizade, de entrelaçamento e de afeto.

Um afeto que afeta, que transforma, algo de realidade e imaginação que implica em nós, na nossa história e na memória do mundo. O convívio contemplativo com esse conteúdo atrita um tipo de afeto não decifrável, porém agudo de sentidos, que percorre, como um fluxo invisível, a materialidade dessas velhas fotografias, um mundo que passa e passou por entre elas e entre nós.

Os sete projetos visuais de Outono dos Arquivos Órfãos expressam riscos imaginativos e simbolizam a contaminação a que somos expostos quando nos misturamos e coabitamos com fotografias órfãs, seja por sua inesgotável fonte de inspiração e supervivência, seja por sua falta de parcimônia em nos provocar a reagir e a instalarem em nós o seu armazém de memórias expressivas e sensíveis.

Fabiana Bruno
Curadora

TOTE

Outono dos Arquivos Órfãos

Fotografias avulsas, livres e em deslocamentos errantes, apátridas e sem destino. Imagens enlutadas pela perda de seus álbuns, “seus berços” de arquivos familiares, tornam-se silentes sobre o seu passado na medida em que se afastam de seus começos e recusam-se a dizer o que já viveram um dia. Como restituir essas fotografias – que poderiam bem serem os restos, as excluídas, as enjeitadas – a um lugar no mundo? Como tocar na supervivência destas fotografias que agora respiram adormecidas no silêncio pulsante de um arquivo órfão, embebidas em seus esquecimentos, sobras e intervalos poéticos?

Da propositura do desafio de encontrar possibilidades artísticas e poéticas para lidar com tais indagações, nasce o conjunto de trabalhos desta exposição Outono dos Arquivos Órfãos. Projetos visuais de rara sensibilidade que se preocuparam em “oferecer um destino” às fotografias vernaculares anônimas, desarticuladas de seus álbuns e de seus arquivos e encontradas por catadores de lixo reciclável abandonadas nas ruas de Campinas.

A realização deste trabalho coletivo, no contexto do Grupo de Estudos do Ateliê CASA, é também o projeto inaugural nascido da documentação do ACHO – Arquivo Coleção de Histórias Ordinárias, e reflete o movimento a que se lançaram sete artistas visuais – Alice Grou, Estefania Gavina, Elaine Pessoa, Olívia Niemeyer, Helena Giestas, Norma Vieira e Vane Barini, – ao longo do ano de 2018, sob minha orientação e curadoria, mas indispensavelmente sob a magnitude de um arquivo de fotografias anônimas e seus enigmas.

Uma combinação de desejos e de revelações expostas aos riscos imaginativos, aos quais estas artistas visuais se lançaram ao adotar fotografias anônimas e conviver com elas. Fotografias despretensiosas, quase banais, daqueles dias ordinários em que a vida, e também a morte, parecem ter nos esquecido. Fotografias de “pequenezas”, como o simples golpe do olhar de uma criança impresso em um retrato amarelado, e até um pouco apagado, desvendado em meio a outras imagens desgarradas, entre as últimas fotografias de uma caixa velha. Ou de um jardim, que ainda guarda um pequeno portão por onde entraram e saíram pessoas de um tempo outro, por onde passaram acontecimentos registrados naqueles que posam para a fotografia, emoldurando um gesto de amizade, de entrelaçamento e de afeto.

Um afeto que afeta, que transforma, algo de realidade e imaginação que implica em nós, na nossa história e na memória do mundo. O convívio contemplativo com esse conteúdo atrita um tipo de afeto não decifrável, porém agudo de sentidos, que percorre, como um fluxo invisível, a materialidade dessas velhas fotografias, um mundo que passa e passou por entre elas e entre nós.

Os sete projetos visuais de Outono dos Arquivos Órfãos expressam riscos imaginativos e simbolizam a contaminação a que somos expostos quando nos misturamos e coabitamos com fotografias órfãs, seja por sua inesgotável fonte de inspiração e supervivência, seja por sua falta de parcimônia em nos provocar a reagir e a instalarem em nós o seu armazém de memórias expressivas e sensíveis.

Fabiana Bruno
Curadora